Sabe daqueles dias que você acorda e imagina que é importante cultivar uma boa atitude perante a vida.
Se alguém realmente não tem esperança, por que sair da cama?
É essa esperança que nos leva a acreditar nas possibilidades de felicidade e realização, e aconteceu.
O ano era 1986, foi uma semana esperada, no qual, eu iria representar a minha empresa no primeiro encontro de recursos humanos e psicólogos na área de segurança e transportes de valores no Rio de Janeiro.
Nessa época eu era Gestor Administrativo e o Recursos Humanos estava diretamente subordinado ao meu departamento; me acompanharam nesse encontro nossa Psicóloga e a Coordenadora de RH respectivamente.
Um lindo dia no Rio de Janeiro, esse evento na cidade maravilhosa iria ser realizado no Hotel Glória um dos ícones em seu segmento no Brasil. Em nossa chegada fomos recepcionados pelo cerimonialista que em ato contínuo já se pronunciou em me convidar para um “Petit Comité” após o término do evento no seu primeiro dia.
O encontro começava muito bem elaborado, e uma das grandes atrações como palestrante era o Psicanalista Eduardo Mascarenhas que proporcionou uma palestra maravilhosa.
No encerramento das palestras me despedi das minhas colaboradoras e outros colegas presentes e fui para a sala destinada ao “Petit Comité”. Chegando ao local me deparei com mais cinco Diretores Executivos de outras empresas presentes no evento. Começamos então a conversar amenidades, pois, o cerimonialista nos avisou para aguardar o último personagem dessa reunião.
Quando de repente nos apresenta nada mais quem, de que, Eduardo Mascarenhas. Uma surpresa incrível! Ele foi um grande popularizador da psicanálise no Brasil, seus textos, apesar de ser fácil e popular, estava longe de serem superficiais.
Ficamos nós 6(seis) convidados junto com ele em sofás individuais que se fechavam num círculo, bem à vontade.
Começamos então a nossa conversa de alma para alma com esse psicanalista fora de série. O meu primeiro questionamento era me aprofundar num dos temas que ele mais se pronunciava “O amor é um sentimento estranho”.
Então, perguntei a ele. Mascarenhas, já tive oportunidade de leituras de filósofos como Kant, Aristóteles, De Bouvier, e no que guardei em meus pensamentos descritos por eles era que o amor se encaixava em suas teorias mais amplas da razão humana, excelência e liberdade.
Continuei dizendo, que sem surpresa, esses personagens citados por mim em suas visões historicamente situadas tendiam a espelhar os tipos de amor culturalmente valorizados em sua época. Frisei que os Gregos elogiavam o amor pela amizade. Estudiosos da Idade Média ruminaram sobre o amor de Deus. Com o Renascimento, o amor romântico passou a ser o centro das atenções.
Hoje, os filósofos continuam a questionar o amor e a tirar lições práticas sobre como podemos abordá-lo em nossas próprias vidas. Assim, perguntei ao nobre Psicanalista; qual a sua razão e entendimento dessas questões?
Ele se pronunciou dizendo; Sergio, pense nas maneiras como distinguimos o amor de outras qualidades semelhantes. Vou dar um exemplo. Podemos facilmente imaginar alguém dizendo entre seres humanos: “Não é amor, eles são apenas amigos”. Ou “Não é amor, é apenas paixão. ”
Idealmente, um relato de amor o distinguiria de (por um lado) afeição, amizade, respeito, admiração e cuidado e (por outro) luxúria, paixão e obsessão.
Então me pronunciei, Mascarenhas, o amor parece mais profundo e diferente desses.
Ele disse, Sergio, talvez também precisemos considerar se usamos a palavra amor de maneiras diferentes. O que você entenderia quando falamos de amar livros, ou uma banda, ou nossos animais de estimação, estamos usando o mesmo conceito de quando falamos de amor às pessoas?
Ele continuou dizendo que mesmo focando no amor às pessoas, podemos querer distinguir entre os tipos de amor, como a paixão compartilhada por dois casais em lua-de-mel, em comparação com o compromisso de um casal idoso. Alguns podem marcar a distinção dizendo que os recém-casados estão “apaixonados”, enquanto os casais de idosos “se amam”.
Repliquei, Mascarenhas, os meus entendimentos apontam que, apesar das distinções em seus estágios iniciais, diferentes tipos de amor tendem a se tornar mais semelhantes com o tempo. Talvez isso sugira que existe uma essência de amor subjacente e compartilhada, o que você acha?
Sergio, imagine que você se perguntou o que realmente é o amor. Qual seria sua resposta?
Você diria que o amor é uma emoção?
Ele continuou, o amor pode parecer um exemplo perfeito de emoção. No entanto, em comparação com emoções como raiva ou tristeza, os estados mentais do amor são estranhamente mutáveis. O amor pode nos fazer sonhar acordados e desmaiar, mas também pode nos levar ao ciúme, à perda, à confusão, à aspiração, à ambição e muito mais.
Sergio, o amor não é um sentimento, mas a fonte de muitos.
Enfim, as palavras desse psicanalista foi um habit de novos conceitos para mim, e me faz imaginar que os tempos que você viveu, as pessoas com quem você compartilhou aqueles tempos; nada traz tudo à vida como uma fita de mixagem velha. Ela armazena memórias melhor do que o tecido cerebral real. Cada mix tape de nosso cérebro conta uma história. Coloque-os juntos e elas podem somar a história de uma vida.
Onde quer que uma bela alma tenha estado, há um rastro de belas lembranças.
Eduardo Mascarenhas, obrigado por tê-lo conhecido.
Sergio Mansilha
(Uma liderança que soluciona desafios de negócios por meio de análises e consultoria estratégica)