Desde
pequenos somos paranoicos com normalidade. Faz parte do instinto humano de
sobrevivência a vontade de pertencer a um grupo e ser aceito por ele. Isso é
observado desde as comunidades indígenas até o ambiente corporativo. Seres
humanos se organizam em grupos em que os iguais são aceitos e os diferentes são
rejeitados.
Morremos
de medo na infância e na adolescência de sermos rejeitados por nossos
coleguinhas e nos esforçamos ao máximo para sermos normais dentro do grupo com
que nos identificamos. Qualquer traço diferente, seja físico, psicológico ou
cultural (como um sotaque diferente), faz com que o grupo inicie um movimento
coletivo de rejeição, daí o efeito bullying, tão comum nas escolas.
Na vida
adulta, em nome da decência e do respeito para com nossos semelhantes, nos
contemos e não tiramos sarro dos diferentes, nem os excluímos como fazíamos (ou
sofríamos) quando jovens. Grupos, no entanto, se nivelam por baixo. A
normalidade, mesmo na vida adulta, é um padrão invisível, porém constantemente
cobrado socialmente. Das decisões pessoais (como ter ou não ter filhos, casar
ou não casar) à vida profissional (como ter uma carreira tradicional), o grupo
nos pressiona constantemente para mantermos a normalidade e nos incentiva a não
nos desviarmos muito dos trilhos da vida. Dentre os índices mais perigosos de
normalidade está a mediocridade, que dita que se não formos obter alguma
vantagem explícita, então devemos só fazer o necessário para nos safarmos.
O
treinamento da mediocridade já começa na escola ao só estudarmos porque somos
obrigados e só fazermos o necessário para obtermos notas boas e passarmos de
ano. Essa postura corrompe o caráter e a integridade e se chega na vida adulta,
mantém a pessoa em subnível, pois ela não faz nada que não precisa ser feito ou
por que não será recompensado com alguma vantagem. Desde cedo na vida somos
ensinados que para “nos safarmos” devemos ser apenas bons o suficiente. Poucas
pessoas têm a sorte de ter pais e/ou professores que estimulam a excelência
pessoal. A maioria das pessoas responsáveis pela educação e criação de crianças
e jovens é medíocre e jamais poderia transmitir a excelência pessoal, uma vez
que elas próprias não a praticam.
Na
escola, poucos são os alunos que lutam pela excelência e não se permitem tirar
notas baixas. A maioria está feliz demais com notas apenas acima da média –
desde que dê para passar de ano, está bom. Em casa, muitas crianças aprendem a
fazer apenas o suficiente para manterem os pais “quietos” sem reclamarem de sua
conduta, bagunça ou hábitos improdutivos como jogar videogame. Ao crescer com
essa postura, o adulto mantém a mesma mentalidade do “bom o suficiente” na vida
pessoal e no trabalho. É a cultura da mediocridade. É socialmente aceitável não
ser excelente e até mesmo estimulado, como se fazer além do absolutamente
necessário fosse coisa de gente boba. Isso é freqüentemente observado em
empresas em que a mediocridade se alastrou.
Os
funcionários só fazem o que precisam fazer para manter seus empregos e pegam no
pé de quem faz além da conta e procura ter um desempenho melhor, como se tal
postura fosse coisa de idiota – “Não seja burro! Não vão te pagar mais para
fazer bem feito.” No âmbito pessoal, o mesmo padrão de comportamento rege os
relacionamentos. Um dos mais fortes fatores que destroem relacionamentos
afetivos é justamente a leviandade com que as partes passam a tratar uma à
outra depois que a fase da paixão, que estimula a excelência, passa. Depois que
a motivação para dar o melhor de si já passou, as pessoas tendem a fazer apenas
o suficiente para manter seus relacionamentos, mantendo um nível de
displicência que termina por corroer os sentimentos que um tem pelo
outro.
Suponho
que você que está lendo este artigo tenha a ambição de conquistar o sucesso em
sua vida e realizar os seus sonhos. Saiba, então, que bom o suficiente não é suficiente
para conquistar grandes coisas na vida! A postura de excelência pessoal que
ensinamos por aqui é incompatível com a cultura da mediocridade. Digo então
para meus leitores, não caiam vítima dessa cultura da mediocridade (ou
normalidade, como queira), pois ela está tão alastrada em nossa sociedade que é
fácil não perceber que sua postura está refletindo a mentalidade da maioria, ao
invés de sua própria autenticidade. A pessoa excelente não se preocupa se o que
ela está fazendo ultrapassa as expectativas alheias, ao contrário da pessoa
medíocre que só faz o que é necessário e olhe lá.
O que a
pessoa medíocre não percebe é que o reconhecimento que ela espera dos outros,
por exemplo numa situacão profissional, nunca vem justamente porque os outros
percebem que ela não faz nada mais do que o necessário. Ela nunca é promovida,
nunca sai do lugar na carreira e não sabe porque. Por outro lado, fazer mais do
que o necessário dentro do que não precisa de muito empenho é perda de tempo e
não chama a atenção das pessoas-chave.
Frequentemente,
pessoas que não prezam a excelência “disfarçam” fingindo se empenhar para
chamar a atenção de pessoas que poderiam ajudá-la a crescer profissionalmente.
O que elas não percebem é que a excelência pessoal é uma postura íntima e isso
transparece, assim como a autoconfiança e a autoestima (dá pra ver de longe,
“só de olhar” quem tem autoconfiança e autoestima e quem não tem, não dá pra
“fingir”).
Não dá
pra disfarçar excelência pessoal também. É claro que nem sempre a escada
corporativa obedece a lei da meritocracia, mas a preocupação com a injustiça (o
fulano foi promovido e isso não é justo, pois eu sei que sou mais capaz que
ele) é também parte da cultura da mediocridade. Só os medíocres perdem tempo se
preocupando com as injustiças da vida.
Os
excelentes sabem que a injustiça faz parte e não se estressam com ela,
contornando casos injustos contra si mesmos como contornam qualquer obstáculo,
com pragmatismo e inteligência emocional.
Pense nisso.
Sergio
Mansilha